quinta-feira, 27 de março de 2008

Breves considerações sobre "O Homem de Praga"





A peça “O Homem de Praga” faz parte de um tríptico que apresenta diversos episódios da vida do escritor Franz Kafka.

Em O Homem de Praga, a situação é totalmente ficcional. Franz Kafka volta à sua cidade - depois de ter toda a obra publicada - para tentar alcançar o castelo de Carlos IV, ou encontrar um mensageiro dele por intermédio do qual possa reinvindicar sua exclusão da história da literatura. Narra suas intenções lamentando a publicação daquelas obras, bem como o descaso do seu pedido de destruição dos livros publicados e dos seus manuscritos.

Esta desobediência legou ao mundo uma obra fundamental da contemporaneidade.

A figura de Max Brod, sua relação com o espólio de Franz Kafka, é controvertida, pois a fidelidade ao amigo se confronta com o amor à sua obra. Na peça assume a figura mítica do rabi Lövi, suposto criador do Golem. Neste contexto histórico, Franz Kafka é criação de Max Brod, que usa a palavra daquele para materializá-lo.

O Narrador presente no palco cumpre as funções do Coro: narra, sintetiza, interroga, opina..., representando a platéia. Através de sua voz conhecemos opiniões e idéias que circulam a respeito destes personagens.

O texto d’O Homem de Praga inclui citações de diversos autores dentre os milhares que já se ocuparam da ligação destes dois escritores.

A obra é estruturada segundo a estética da arte (teatro clássico japonês). O texto é narrativo, as cenas estáticas, a atuação neutra, como corresponde a suportes vivos de entidades mítico-ficcionais. Por escolha desta estética, o palco é nu. Apenas a primeira imagem panorâmica da cidade de Praga ilustra o espaço no qual transcorre a narrativa. Figurinos e adereços são solidários com tal estética. Os trajes, apesar da sobriedade, cumprem sua função cênica sintetizando as personalidades dos protagonistas no seu tempo e lugar. Os poucos adereços devem “representar” diversas matérias e objetos colaborando para concretizar a cena.

Em tal proposta de encenação, as situações não podem ser realistas; respeita-se a realidade teatral, contudo, tais como a permanência estática e silenciosa no palco sem participar da cena. Evitam-se quaisquer “efeitos especiais”, sejam eles sonoros ou de iluminação. A ênfase nesta obra recai sobre atuação, que deve narrar dramatizando o espaço cênico, isto é, tornando-o significativo sem os recursos ilusionistas da cenografia. Na estética escolhida, pode-se falar de dança estática ou de fotogramas observados a olho nu, sem projetor. As deixas nem sempre são dadas pela fala. Movimentos de projeção ou translação geram reações dos personagens. A ausência de diálogos – as falas são solilóquios maus ou menos independentes – coloca o espectador na situação ativa de ter que montar a cena reunindo os diversos elementos que a compõem.


sexta-feira, 21 de março de 2008

Histórico da Companhia

Caro visitante, gostaria de colocar aqui algumas linhas inaugurais sobre a nossa Cia., afim de que fique mais próximo do grupo e tome um conhecimento breve da nossa linha de pesquisa e trabalho.

O texto abaixo é de autoria de nosso diretor - (mas, vale dizer, com algumas intervenções e grifos que não são de sua autoria):

"A Factótum - Companhia de Teatro é formada por seis integrantes. A proposta do grupo é um estudo de diferentes formas de encenação reunindo a variedade de experiências dos participantes numa estética que foge aos padrões correntes do teatro comercial.

O poder de síntese do teatro tradicional japonês, linha adotada pelo grupo, poderá parecer muito "avançado" para alguns espectadores, porém a Factótum - Companhia de Teatro acredita que o público contemporâneo já está suficientemente informado para admitir (ou talvez exigir) formas não miméticas de teatro, obras nas quais a forma seja auto-suficiente, sem necessidade de fazer referências ao seu cotidiano.

Trata-se de arte altamente estilizada que exige a participação inteligente da platéia. O distanciamento-aproximação procurado pela dramaturgia européia do século XX, já havia sido realizada pelo teatro japonês no século XIV. Eisenstein afirmava ter aprendido a arte da montagem cinematográfica com o haikai, "cinema antes do cinema". Poder-se-ia arriscar a opinião de que a arte Nô é a versão cênica dessa forma poética, a mais breve do mundo (17 sílabas).

Com este compromisso formal, a Factótum - Companhia de Teatro inaugurou sua carreira no espaço teatral da cidade de São Paulo com a peça O Homem de Praga, em 2006.

São Paulo, 2006" - J. Lescano (diretor)

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Para mais informações sobre a peça O Homem de Praga e o teatro Nô japonês, veja as postagens posteriores.